Unicamp 2025: provas exigiram avaliação crítica sobre a 'vida real'; professores analisam 2ª fase
02/12/2024
Candidatos tiveram que aplicar conteúdos à luz de acontecimentos de repercussão na mídia nos últimos meses, como o conflito na faixa de gaza e a polêmica envolvendo a rede social 'X". Estudantes realizam a segunda fase do vestibular da Unicamp
Pedro Amatuzzi/g1
A segunda fase do Vestibular 2025 da Unicamp apresentou questões complexas e trabalhosas "da vida real" que exigiram atenção e avaliação crítica por parte dos candidatos. É o que professores ouvidos pelo g1 analisaram das provas aplicadas neste domingo (1º) e segunda-feira (2).
Enquanto as questões de geografia, sociologia, filosofia, química foram consideradas mais difíceis pelos professores em relação ao ano passado, as de biologia e história tiveram menor grau de dificuldade. Matemática e física mantiveram o mesmo padrão do Vestibular 2024. Veja abaixo a análise por disciplina.
Segundo o professor Wander Azanha, diretor do Curso Pré-Vestibular Oficina do Estudante, uma prova exigente no conteúdo e muito marcada por temas de repercussão, como o conflito na faixa de gaza, a epidemia de dengue, as olimpíadas de Paris e a polêmica envolvendo a rede social X (antigo Twitter).
"Temos um consenso geral entre os professores de que foi uma prova exigente, como é de se esperar de uma segunda fase da Unicamp, mas que não só exigiu do aluno um conhecimento prévio e aulas bem assistidas, mas também que, além desse conteúdo prévio, ele precisava pensar sobre a vida real", afirmou o diretor.
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Azanha destacou que os candidatos que não estavam informados sobre os assuntos que estiveram em destaque na mídia nos últimos meses tiveram mais dificuldade na prova.
"O aluno que foca apenas na sala de aula e nos seus conteúdos até poderia fazer algumas questões, mas não correlacioná-las da maneira correta e teria dificuldade de transportar para o papel aquilo que a banca e a questão exigiam dele. Um candidato que lê além do conteúdo, é o candidato que a Unicamp gostaria de ter", destacou.
Questões mais difíceis
A pedido do g1, os professores do curso elegeram as questões com maior grau de dificuldade e complexidade da prova neste ano. Veja abaixo a questão e clique nela para ver a resolução:
Questão 17 de química sobre bioeletricidade
Questão 18 de química sobre emissão de carbono na atmosfera
Questão 11 de biologia sobre desafios biomecânicos e fisiológicos
Questão 16 de geografia sobre imigração
Questão 8B de matemática (candidatos de exatas) sobre geometria
"Um "fantasma" dessa prova foram as questões de química: muito exigentes, nas quais era necessário que o candidato realizasse diversas conexões. Em um único item, o candidato precisava fazer várias relações, com um item se desdobrando em outros", destacou Azanha.
Como é o Vestibular da Unicamp
No primeiro dia de provas, alunos fizeram a redação e responderam questões comuns de linguagens, literatura e ciências da natureza. No segundo dia de provas, os candidatos resolveram enunciados de habilidades específicas aos curso de interesse. Veja divisão:
Candidatos da área de ciências biológicas/saúde: questões de biologia, química e matemática;
Candidatos da área de ciências exatas/tecnológicas: questões de física, química e matemática;
Candidatos da área de ciências humanas/artes: questões de geografia, história, filosofia, sociologia e matemática.
Veja análise das questões do segundo dia de provas:
Biologia
Para o professor Marcelo Alves Perrenoud, a prova de biologia abrangeu diversos temas de atualidade do universo da biologia. "Com questões sobre mudanças climáticas, dengue, pesca de tubarões e os danos causados pela fumaça do cigarro tornaram a prova muito próxima dos vestibulandos.
"Este ano a Comvest conseguiu calibrar muito bem a prova para que o nível de dificuldade fosse o esperado para uma segunda fase da UNICAMP, considero que tenha sido mais tranquila que em relação ao ano passado. Gráficos e imagens tornaram a prova visualmente agradável para os alunos".
Química
A prova de química exigiu do candidato grande capacidade de interpretação de texto, tabela e gráficos, segundo o professor Marcos César Formis. “A prova estava difícil, até mesmo um pouco mais que em relação ao ano passado".
"Várias questões apontando para preocupação de meio ambiente, sustentabilidade, e impacto ambiental gerado por atividade humana. Prova bonita que exigiu elevada capacidade de argumentação por parte do aluno, avaliação crítica com proposta que a Unicamp vem realizado.”
Matemática
Todos os candidatos tiveram questões de matemática no segundo dia, mas elas eram específicas à área de interesse do vestibulando. Segundo o professor Rodrigo do Carmo Silva, a prova manteve o mesmo nível em relação ao ano passado, apresentando temas abrangentes, como geometria plana, interpretação de gráficos e função inversa.
Física
Marcelo Bredariol, professor de física, considerou a prova no mesmo padrão do ano passado e com questões bem construídas. "Questões claras e bem escritas, com exceção da questão 11 da prova de exatas, na qual o autor se refere a certa massa a chamando de peso, que é uma força", pontuou.
"No demais uma prova bem balanceada nos trazendo belas questões termodinâmica, força elétrica no campo elétrico uniforme, lentes esféricas, além de nível de intensidade sonora, o que nos chamou a atenção. Outro ponto foi a exigência de construções de imagens numa lente, que está no histórico da Unicamp mas que, como os demais assuntos, foram fortemente trabalhados com nossos alunos", afirmou Bredariol.
Humanidades
Segundo o Silvio Sawaya, professor de Sociologia e Filosofia, as questões de humanidades tiveram um grau maior de dificuldade neste ano. "Foram questões trabalhosas, dependendo não só da compreensão dos textos, mas de relacioná-los abstratamente. Mas mesmo assim, considero que as questões estavam em um nível de dificuldade médio", pontuou.
História
O professor Marcus Vinícius Morais considerou que as questões de história tiveram uma dificuldade mediana, com destaque para leituras e conexões. "Destaque para a questão 11, a respeito da fotografia. As fotos, surgidas no século XIX, e suas profundas conexões com o mundo contemporâneo, repleto de imagens e celulares".
Veja abaixo análise do primeiro dia de prova:
Física 🌠
O professor de física Giuliano Perina explica que a questão 9, primeira das interdisciplinares, pediu para que os candidatos identificassem quais são as leis de conservação principais que acontecem em um sistema de colisão.
“Então, ela exigia que o candidato soubesse identificar a quantidade de movimento e energia sendo conservadas. Pediu também para que ele identificasse qual era o tipo de colisão e o que se conservava e o que não se conservava, quais as grandezas se conservavam e não se conservavam dentro dessas leis", afirma.
Já a segunda questão interdisciplinar com conceitos de física trouxe a cobrança da ondulatória, “um conhecimento simples, nada muito complexo, que exigia do candidato identificar uma figura, para interpretar uma figura”.
História 📖
O professor de história Felipe Mello destaca a atualidade do exame. “Um candidato conectado aos principais assuntos veiculados nos meios de comunicação teria a capacidade de resolver a prova. O nível da prova foi médio”.
Em relação à questão sobre a rede social X no Brasil, “exigia-se que o candidato dominasse o conceito de 'decolonialidade', enquanto um conjunto de práticas, estudos, pesquisas e conceitos que visam diminuir ou reverter os efeitos da colonização nas sociedades”.
Arte em alusão ao conflito entre a rede social X e o Estado Brasileiro usada no Vestibular Unicamp
Reprodução
Inglês 🗣️
O professor de inglês Isac Silva afirma que “as questões em inglês testaram não só as capacidades de leitura em língua inglesa do candidato, mas, também, seus conhecimentos nas áreas de biologia e filosofia”.
"A leitura dos textos não é desafiadora de maneira geral, mas a compreensão plena dos mesmos requer conhecimento de vocabulário específico das áreas a que se referem", diz.
Filosofia e sociologia 🏛️
Silvio Sawaya, professor de sociologia e filosofia, destaca uma questão de nível médio sobre René Descartes, combinada com inglês. “O texto da questão elaborado em inglês exigia do aluno um pouco mais de conhecimento em filosofia para que pudesse responder à questão de maneira mais completa”.
"Era possível responder apenas com base no texto, mas, se o aluno ou estudante tivesse um conhecimento mais aprofundado sobre Descartes, poderia elaborar uma resposta mais detalhada", pontua.
Literatura 🖊️
Na perspectiva da professora de literatura Jéssica Dorta, “de maneira geral, a prova de língua portuguesa foi composta por questões bastante desafiadoras, principalmente no que diz respeito à elaboração das respostas escritas”.
"Para responder à questão de 'Casa Velha' era necessária uma leitura atenta da obra, já no caso de 'Prosas seguidas de odes mínimas', além da interpretação do poema, era necessário conhecer a poética de Gonçalves Dias, recorrente nos vestibulares. Houve ainda a tradicional relação entre textos verbais e não verbais, além de intertextualidade, por meio da alusão", afirma.
Biologia 🌿
Por fim, em biologia, a avaliação do professor Fábio Vilar é de que a prova foi “bastante representativa, sempre com questões e abordagens coerentes e de profundidade adequada”.
“Foram três as questões que trouxeram os temas da biologia, o que caracterizou uma presença marcante da disciplina nas ciências da natureza. Bioluminescência e relações ecológicas dialogaram com a disciplina de inglês; as faunas características das eras geológicas dialogaram com a geografia; e, com a física, foram abordadas a histologia e a ecologia", destaca.
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